segunda-feira, 9 de outubro de 2017

O primeiro grupo teatral negro do Brasil


Dizem que Cristo nasceu em Belém
A história se enganou
Cristo nasceu na Bahia, meu bem
E o baiano criou

(Cristo nasceu na Bahia de Duque e Sebastião Cirino. Samba amaxixado executado em uma das montagens da Companhia)



De Chocolat
Em 1926, o cantor, compositor, teatrólogo e poeta baiano João Cândido Ferreira, a quem todos conheciam como De Chocolat, concebeu uma empreitada bastante ousada para a época: montar uma empresa teatral formada somente por negros. Isso tornou-se um marco histórico-cultural do negro no Brasil.
Entre os grandes nomes pertencentes à companhia estavam Pixinguinha, Osvaldo Viana e Donga.

A estréia ocorreu em julho do mesmo ano com uma superprodução de nome "Tudo Preto" que contava com mais de 30 cenários. A dose de sensualidade exigida pelo público de teatro da época, ainda mais evidente em revistas, era retratada pelas black girls que dançavam de maiô em alguns trechos. Pela primeira vez os negros estavam em todos os papéis de destaque.

Foram mais de cem apresentações e os jornais da época que, obviamente, estavam prontos para criticar o grupo renderam elogios e muito prestígio, reconhecendo a qualidade do grupo, ainda que se referissem aos atores com termos que hoje seriam considerados preconceituosos. Entre os espectadores da montagem estava o ilustre Mario de Andrade.

Após o êxito de "Tudo Preto", De Chocolat e seu parceiro no comando da companhia,o cenógrafo português Jaime Silva (único branco do grupo) deram um passo em falso com a estreia de "Preto no Branco". Com erros de organização e apresentações que evidenciavam uma carência gritante de ensaios, a revista foi duramente criticada. Segundo o colunista de A manhã, De Chocolat era quem estava mais perdido.
As falhas na execução da revista deram espaço para as críticas raciais que a imprensa havia, de certa forma, abafado por conta do sucesso anterior.
"Ora, constatada a palhaçada que o De Chocolat havia imposto ao público, o declínio era certo, a decadência, fatal. Hoje, felizmente a companhia estribucha. Graças! Vamos ter de novo, em casa, as nossas cozinheiras". Publicou A Rua.

Com o fracasso da nova montagem a companhia resolveu voltar a apresentar o já consagrado "Tudo Preto", porém Jaime Silva  De Chocolat resolveram romper a parceria. Jaime seguiu com a Companhia Negra de Revista enquanto o outro fundou o Ba-Ta-Clan Preta com um propósito similar. Nesse ponto, Pixinguinha seguiu na companhia original com Jaime Silva e o elenco ganhou um novo integrante, o Pequeno Otelo, de apenas onze anos que, mais tarde, seria chamado de Grande Otelo.
"É tenor, é preto, muito preto, como o smoking que vestia, é prodigioso quando canta e recita, como é engraçadíssimo quando palestra" Contou O Globo.



A importância de relembrarmos a Companhia Negra de Revista está em reconhecer um dos grandes símbolos da resistência no Brasil. O trabalho de gente que fez o negro ser visto, em um tempo ainda mais complicado para isso, não pode ser esquecido.

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